Cybertechs criam ferramentas para impedir fraudes
20 de outubro de 2021
Em junho, o Distrito e a Cisco lançaram o movimento CyberTech Brasil, que pretende promover a conexão entre empresas, startups, governo, academia e terceiro setor. Um portal na web vai reunir chamadas públicas e conteúdo sobre cibersegurança para ajudar as empresas a criar uma cultura da segurança digital, aproximando-as dos fornecedores de serviços.
Como parte do movimento, a Cisco criou um centro de inovação e experiências em segurança cibernética, o primeiro do país. A proposta é reunir informações em tempo real sobre ataques, respostas a incidentes e soluções tecnológicas.

“Existem hoje 205 startups de cibersegurança em atuação no país e nossa expectativa é que esse número dobre nos próximos dois anos”, diz o cofundador e CEO do Distrito, Gustavo Araújo. Na sua avaliação, as demandas do mercado abrem boas oportunidades para empresas de tecnologia que atuam em nichos específicos como, por exemplo, segurança de APIs - acrônimo em inglês para interface de programação de aplicativos, que viabiliza a comunicação entre sistemas distintos. “Quanto mais APIs forem criadas, mais surgem portas de entrada para potenciais ataques”, lembra.
Esse ecossistema se organiza em 13 categorias, com a maior parte das empresas dedicada à gestão do acesso a identidade - são as chamadas idtechs. Outras áreas de atuação são segurança de infraestrutura de rede, web, computação em nuvem, aplicativos, dados, transações financeiras, internet das coisas (IoT), consultoria, mobilidade, resposta a incidentes e GRC - acrônimo em inglês para integração das áreas de gestão de riscos, governança corporativa e práticas de auditoria e controle.
O primeiro unicórnio brasileiro de cibersegurança é uma idtech: a unico (ex-Acesso Digital), startup especializada em biometria por reconhecimento facial e impressão digital. Em agosto a empresa anunciou ter recebido um investimento de R$ 625 milhões dos fundos General Atlantic e Softbank. Há um ano ela havia levantado R$ 580 milhões dos mesmos investidores.
Os frequentes vazamentos de dados divulgados pela imprensa - uma fração dos que ocorrem sem chegar ao conhecimento público - demonstram que a questão é estratégica. Empresas negligentes quanto à proteção de informações sob sua guarda ficam mais vulneráveis ao risco de fraudes, chantagens, furto de segredos comerciais e danos à reputação, além de multas altas. Em vigor há 14 meses, a LGPD já embasou mais de mil sentenças judiciais sobre o uso indevido de dados, segundo levantamento da startup Juit.
Um estudo da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) com o instituto de pesquisa Ipespe aponta que 86% das pessoas têm medo de serem vítimas de fraudes ou violações de seus dados. Mais da metade dos entrevistados acreditam que os riscos no fornecimento de dados pessoais superam os benefícios recebidos. Por outro lado, há otimismo quanto à evolução no futuro. Para os próximos cinco anos, 54% têm a expectativa de avanço na segurança. Apesar do medo e da preocupação em relação a seus dados pessoais, a maioria dos brasileiros confia nas empresas e instituições com que fazem transações.
Outra pesquisa, encomendada pela Mastercard ao Datafolha, ouviu 351 tomadores de decisão da área de tecnologias de empresas de educação, finanças e seguros, tecnologia e telecom, saúde e varejo.
O “barômetro da segurança digital” mostra um descompasso entre o discurso e a prática, pois 81% dos entrevistados afirmam dar muita importância à cibersegurança, mas apenas 31% colocam o tema como prioridade no orçamento. Mais da metade (57%) dessas empresas já foi alvo de fraudes de ataques digitais com alta ou média frequência. Para 75% dos gestores, a LGPD traz mais benefícios que prejuízos.
As novas obrigações criadas pela Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) e o crescimento dos crimes cibernéticos têm levado organizações de todos os portes a buscar a ajuda das startups de segurança digital. No Brasil as chamadas cybertechs empregam 6,4 mil profissionais e criam tecnologias que vão desde a identificação biométrica por reconhecimento de voz ao uso de inteligência artificial para detectar e-mails fraudulentos. Entre 2013 e 2021, o setor recebeu investimentos de US$ 388 milhões (R$ 2,2 bilhões), segundo o Inside Cybertech Report, relatório produzido pela plataforma de inovação aberta Distrito em parceria com a Cisco. Mais de 70% desse valor (US$ 282 milhões, ou cerca de R$ 1,6 bilhão) foi aplicado nos últimos dois anos.